Foi há exatos 90 anos, em 1926, que o Dia do Profissional da Contabilidade tomou forma no Brasil. Desde então, 25 de abril marca uma homenagem para uma categoria cada vez maior. De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), cerca de 500 mil contadores atuam no país hoje. Mas afinal, o que eles fazem?
Susan Hawkins é fundadora e diretora da SHP Financial Training, que prepara profissionais brasileiros na busca por certificados de finanças desde 2014 – e inclusive para o ACCA, importante para quem pensa em trabalhar no exterior.
Economista formada pela Universidade de Oxford, ela trabalhou para gigantes como Bank of England e E&Y, que a trouxe para São Paulo. Hoje enraizada na cidade, Susan descreve um contador como alguém que mantém e revisa registros contáveis e está sempre atento a impostos e regulamentações.
Mas não é só, explica. O contador também usa ferramentas de análise numérica para obter insights que ajudam a elaborar a estratégia geral do negócio – como gerenciar riscos, avaliar que partes da companhia são mais lucrativas e criar relatórios para ajudar na tomada de decisões sobre recursos, por exemplo. “O tempo dos líderes da área de contabilidade acaba dividido entre todas essas funções”, diz.
Formação do contador
Atuar profissionalmente na área Brasil tem suas exigências. Além da graduação em Contabilidade, é necessário ser aprovado em um exame do CFC, que em seguida registra o indivíduo como contador habilitado em todo o país.
Quem quiser atuar como auditor de empresas com capital aberto na bolsa de valores – alguém que oferece uma opinião independente das diretorias financeiras – precisa ir além e passar por outro teste antes de ganhar o registro no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI).
Aqueles que quiserem auditar bancos e instituições financeiras devem adquirir uma licença do Banco Central do Brasil (BACEN) e, por fim, quem escolher o ramo dos seguros precisa passar pelo exame da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
Tudo isso transformou a profissão em algo com forte demanda no mercado, que é dominado pelas quatro maiores empresas do tipo no mundo, ou “Big Four”: PwC, EY, Deloitte e KPMG.
Ramos de atividade
“Contadores podem usar sua educação formal em muitos negócios e organizações diferentes, como fabricantes, agências governamentais e ONGs”, explica Susan. “Muitos também usam seus conhecimentos e experiências para se tornar executivos e empreendedores.” Ela aproveita para explicar os cinco tipos mais comuns de contabilidade:
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Contabilidade financeira:
O contador está diretamente envolvido com a preparação dos relatórios financeiros de uma organização. O posto costuma incluir responsabilidade sobre a contabilidade geral e supervisão de funcionários.
Contabilidade de gestão:
O contador analisa custos operacionais, de produção e de projetos especiais. Costuma envolver criação de orçamentos e preparação de relatórios que destacam qualquer tipo de desvio.
Auditoria interna:
O contador avalia sistemas de informação e controles internos, reúne evidências e encaminha os processos para cumprir objetivos da auditoria e das garantias.
Auditoria externa:
É o contador independente que examina os relatórios financeiros de corporações e organizações.
Práticas de contabilidade:
Contador auxilia outros negócios com seus sistemas de contabilidade, relatórios financeiros, informes de imposto de renda, planejamento de impostos e decisões de investimento, entre outros.
Na hora da crise
A importância dos papeis do contador e do auditor cresce exponencialmente quando há um problema a ser consertado ou uma crise financeira. No Brasil, que passa por um momento de contração econômica, esse quadro se mantém. “Em tempos de crise, com riscos e complexidades maiores no ambiente de negócios e um olhar mais atento por parte dos interessados, as responsabilidades fiduciárias continuam sendo prioridade fundamental para criar uma plataforma de crescimento sustentável”, explica Susan.
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O foco cada vez maior na criação sustentável de valores e na transparência, exigida tanto pelo mercado quanto pelos consumidores, também está abrindo o leque de oportunidades para além das finanças e dentro de campos como meio-ambiente e impacto social.
“Essas prioridades pedem uma compreensão das finanças em toda a cadeia de valor e a aplicação de princípios financeiros em um contexto de negócios muito mais amplo”, diz Susan. Um profissional completo, que possui conhecimento das ferramentas de finanças e de negócios em diversas áreas, sai na frente nessa transição.
Habilidades em alta
A associação internacional Association of Chartered Certified Accountants (ACCA), que conta com mais de 170 mil membros pelo mundo, listou as dez competências mais relevantes no mercado hoje. Susan explica um pouco sobre cada uma abaixo.
1. Relatório corporativo
Significa saber preparar relatórios de negócios de alta qualidade que ajudam líderes na tomada de decisões.
2. Liderança e gestão
Saber gerenciar recursos e liderar organizações de maneira eficaz e ética, entendendo as necessidades e prioridades dos stakeholders.
3. Estratégia e inovação
Saber avaliar e examinar posições estratégicas e identificar opções criativas para melhorar posições e performances, além de implementar estratégias e processos inovadores que levem a melhorias.
4. Gestão de finanças
Saber implementar decisões de investimentos e finanças de maneira eficaz e que garantam a criação de valor em áreas como avaliação de investimentos, reorganização de negócios e gestão de riscos.
5. Contabilidade de gestão sustentável
Saber examinar, avaliar e implementar contabilidade de gestão e sistemas de gestão de performance para planejar, medir, controlar e monitorar performances de negócios.
6. Leis e impostos
Entender leis e regulamentações relacionadas aos negócios e minimizar obrigações fiscais através de planejamento tributário.
7. Auditoria e garantia
Oferecer auditorias externas de alta qualidade ao avaliar sistemas de informação e controles internos, além de angariar provas e iniciar procedimentos que garantam os objetivos da auditoria.
8. Governança, risco e controle
Garantir governança eficaz e apropriada; avaliar, monitorar e implementar procedimentos para identificar riscos; projetar e implementar sistemas eficazes de auditoria interna.
9. Gestão de relações com stakeholders
Saber engajar as expectativas e necessidades de stakeholders, alinhar a organização de acordo com suas exigências e comunicar as informações relevantes.
10. Profissionalismo e ética
Entender e comportar-se de acordo com princípios éticos fundamentais e pessoais; garantir a implementação de estruturas éticas apropriadas para as empresas.