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Como André Sturm, que deixou grandes empresas pelo cinema, encontrou seu propósito na gestão pública

André Sturm

Entre as pessoas que conhecem André Sturm pelo nome, é comum ouvir apostos como “o diretor do MIS que trouxe aquela exposição do David Bowie” ou “o dono do Caixa Belas Artes, que fica ali na rua da Consolação”.

Não são tantos os que conhecem sua trajetória profissional, que começou num elevador na Fundação Getulio Vargas, quando ele viu um convite para uma reunião do cineclube da faculdade, e culmina trinta anos depois, com o posto de secretário de cultura na prefeitura de São Paulo.

Nos anos 1980, já apaixonado por cinema e suas especificidades, como programação e distribuição de filmes, o recém-formado em Administração rejeitou propostas de grandes bancos e empresas para trabalhar na área.

Montou uma distribuidora pioneira de filmes europeus, a Pandora Filmes, filmou seu primeiro curta e comandou a programação da Cinemateca Brasileira por dois anos.

Simultaneamente, ainda muito jovem, começou a participar de entidades representativas relacionadas ao cinema, como associações, comissões e órgãos consultivos, uma experiência que seria bastante útil mais tarde.

“Daquele momento em diante, tive essa militância que me fez discutir políticas públicas e batalhar por leis, recursos e fomentos”, lembra ele.

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Um papel ativo na cidade

Em meados de 2002, resolveu fazer algo maior quando viu que um de seus cinemas favoritos e um ponto tradicional da cidade, o Cine Belas Artes, fecharia as portas.

“O Belas Artes sempre foi um tempo para mim. Foi o primeiro multiplex do Brasil e onde vi filmes brasileiros e de Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini, Michelangelo Antonioni…”, diz.

Vê-lo fechar seria difícil. Motivado pela paixão, Sturm tomou a decisão: compraria o cinema.

Em uma negociação rápida com o proprietário, adquiriu 50% da propriedade – “Dei o pouco dinheiro que tinha guardado na vida”, ri – e, ainda em 2003, convenceu os fundadores da produtora 02 Filmes, incluindo o premiado cineasta Fernando Meirelles, a serem seus sócios na empreitada. Juntos, conquistaram o patrocínio do banco HSBC e reabriram o espaço.

Quatro anos depois, ao mesmo tempo em que tocava o cinema e sua produtora, Sturm aceitou um convite de João Sayad, então secretário estadual de cultura de São Paulo, para conversar sobre gestão da cultura na cidade.

O encontro acabou rendendo um emprego como coordenador da unidade de fomento e difusão da produção cultural do órgão, que ele manteve por quatro anos e duas gestões estaduais.

“Era uma unidade muito grande, que cuidava de oficinas, museus, fomento e difusão de programas. Aproximei-me mais das outras áreas, como dança, teatro e circo.”

Ao mesmo tempo em que atuava na gestão pública durante o dia, o que incluía coordenar a Virada Cultural Paulista, que acontecia em diversas cidades do estado, Sturm trabalhou para recolocar seu cinema no circuito dos melhores da cidade.

No fim de 2010, porém, o proprietário decidiu que venderia o imóvel de vez. Sem saída, Sturm fez o anúncio para o público. “Aconteceu um tsunami que eu nunca tinha visto na vida como cidadão: passeatas, manifestações, cobertura da imprensa.”

A atenção fez com que a prefeitura se mobilizasse e logo colocasse em pauta o tombamento do imóvel, construído em 1943. Caso fosse tombado, ele não poderia passar por grandes reformas – ou seja, alugá-lo para qualquer outra coisa ficaria difícil.

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Em março de 2011, no entanto, com negociações inconclusivas e um longo processo de tombamento em andamento, Sturm se viu desgastado. Decidiu fechar. Seus espectadores viram as últimas sessões em março de 2011.

Três meses depois, ele assumiu um outro desafio paulistano esquecido pelo tempo: a direção executiva do Museu da Imagem e do Som (MIS).

Os desafios do MIS

Ele já tinha se candidato ao cargo meses antes, quando participou de um processo seletivo do conselho da instituição, que pertence à Secretaria de Estado da Cultura e foi fundada em 1970. Ao ser selecionado, deixou o cargo no governo para se dedicar ao projeto.

“O museu estava numa crise de falta de personalidade, tinha pouco público e pouca relevância”, lembra ele, que multiplicou os números por dez. “Em 2010, o MIS recebeu 50 mil pessoas. Hoje, é o segundo mais visitado do país.”

Fila no MIS para a exposição sobre o Castelo Rá-Tim-Bum
[Fila no MIS para a exposição sobre o Castelo Rá-Tim-Bum / Foto: Apu Gomes]

Nesse meio tempo, Sturm se dedicou a reinventá-lo. Eliminou cargos de chefia, motivou a equipe a participar do projeto e instituiu eventos fixos, como shows e sessões de cinema especiais, para atrair visitantes frequentes.

Mais importante que isso, no entanto, foi sua curadoria de exposições.

Entre os grandes sucessos desde que assumiu a direção estão mostras sobre Stanley Kubrick (que atraiu 80 mil pessoas), Castelo Rá-Tim-Bum (410 mil) e David Bowie (80 mil), todas com toques específicos dados por sua equipe.

Outra sacada foi permitir fotografias dentro dos ambientes especiais, o que resultou em milhares de selfies nas redes sociais, suscitou a curiosidade do público e fez crescer as filas intermináveis, que por vezes contornam o quarteirão e começavam de madrugada.

Certa vez, no auge de um desses momentos e dentro de um ônibus rumo ao trabalho, escutou um pedido de duas garotas para o cobrador. “Pode nos avisar quando for o ponto do MIS?”, perguntaram. Ele respondeu: “É fácil. Quando metade do ônibus sair, você sai junto”.

“Foi incrível”, diverte-se Sturm, que encaixava, entre um grande hit e outro, exposições sobre sua maior paixão cultural, como retrospectivas dos cineastas Tim Burton e François Truffault. As próximas grandes atrações, já sob a tutela de sua substituta, Isa Castro, serão sobre Steve Jobs e Renato Russo.

E para completar a boa fase da época, um movimento paralelo composto por fãs do Belas Artes continuava lutando pelo espaço. O imóvel já estava fechado há dois anos quando a nova gestão municipal anunciou que reabri-lo era uma prioridade.

Caixa Belas Artes no dia da reinauguração
[Multidão na reabertura do Caixa Belas Artes em 2014 / Foto: Rodrigo de Oliveira/Caixa]

Em julho de 2014, com um novo banco como patrocinador, o Caixa Belas Artes enfim reapareceu com festa. A comoção foi tanta que a rua precisou ser fechada. “Agora o cinema está aí, de volta para a cidade”, entusiasma-se.

Como diretor de dois empreendimentos culturais paulistanos relevantes, Sturm chamou a atenção da nova gestão municipal da cidade, que lhe estendeu o convite para assumir a Secretaria no fim de 2016. Ele aceitou o novo desafio.

A importância da paixão para André Sturm

Sturm diz que, tanto como empresário e quanto como secretário, quer oferecer opções diversas aos cidadãos, ajudando-os a compor seu próprio olhar e ampliar seus horizontes culturais.

“Não se trata do meu gosto, mas dos vários gostos. Seria ótimo se as pessoas dissessem ‘não gosto disso porque vi’ e ‘gosto disso porque vi’”, resume.

André Sturm em reunião com o prefeito João Dória
[André Sturm em reunião com o prefeito João Dória / Foto: Divulgação]

Imerso na rotina intensa de uma secretaria importante numa cidade agitada de 11 milhões de pessoas, ele se impressiona com a diversidade dos bairros e culturas.

E assim como a variedade, o trabalho é de fato grande.

Vai das centenas de atividades da Virada Cultural aos muitos blocos do Carnaval de Rua, passando pela criação de políticas públicas, pelo diálogo entre prefeitura e população e pela administração de bibliotecas municipais e patrimônios como o Theatro Municipal, entre outras atribuições espalhadas por quase 20 unidades.

Sua motivação, no entanto, mantém-se a mesma de décadas atrás. “Meu trabalho foi movido pela paixão a vida toda”, resume, recordando-se das propostas financeiramente vantajosas que rejeitou ao se formar e se decidir pelo cinema.

“Aconselho o jovem a atuar na área em que acredita, porque estou no governo hoje em função do trabalho que realizei”, fala. “Tenha como objetivo fazer um bom trabalho – ser secretário foi consequência disso.”

Leia também: Como é (de verdade) o trabalho em diferentes áreas do governo

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