‘O brasileiro tem uma maneira diferente de trabalhar’, diz CEO do Google

Fabio Coelho

A convite da Época Negócios, Rodrigo Galindo, CEO da Kroton, assumiu o papel de jornalista e entrevistou Fabio Coelho, CEO do Google Brasil. Parceiros de longa data, eles têm muito para falar.

Nos três últimos anos, Rodrigo levou a Kroton a se tornar a empresa mais valorizada da Bovespa, e uma das maiores instituições de ensino do mundo – com escolas que vão do ensino básico até o superior.

Como o Google tem várias iniciativas em educação (como o portal de vídeos YouTube EDU, em parceria com a Fundação Lemann), Fábio ficou à vontade para responder a Galindo, que queria saber sobre a conexão entre educação e tecnologia e o estilo de trabalho na empresa, que se adapta ao país em que está inserida.

No caso do Brasil, explicou Fábio, isso se traduz em um ambiente mais gregário e menos rígido em termos de horários – o brasileiro raramente chega às 9h e sai às 17h, mas trabalha até tarde da noite quando necessário. Além de ter o modelo de produtividade do Google como base, que prioriza a flexibilidade, o engajamento com causas e um modelo horizontal, ele também usa suas capacidades de liderança para manter seus funcionários motivados.

A responsabilidade de um líder é levar esse grupo de pessoas a atingir o melhor resultado possível. E você só consegue isso se estabelecer uma relação de estabilidade, esperança, compaixão e confiança”, disse em um bate-papo com o Na Prática

Para quem se interessa em trabalhar em uma das maiores empresas do mundo, que o CEO brasileiro define como “uma start up bem grande”, o caminho das pedras é um link: o google.com/jobs, que disponibiliza todas as vagas do momento.

“Antes de mais nada, busco o brilho no olho”, contou na mesma conversa. “Mas também busco liderança, um pouquinho de conhecimento, uma formação acadêmica boa e ‘googliness’, que é uma paixão por mudar o mundo e fazer alguma coisa diferente.”

Se depender de Fábio, há espaço de sobra para crescer (e contratar): ele diz que o Google cumpriu apenas 1% de sua missão, que é usar a tecnologia para conectar e transformar a sociedade.

Veja a seguir os melhores trechos da entrevista dos dois:

A gente se conhece há bastante tempo, já fizemos negócios juntos. E sabemos o quanto dependemos de tecnologia para desenvolver nossa indústria. Como o Google vê a tecnologia transformando a indústria de educação?

Sempre que falamos em criar uma sociedade melhor, o assunto passa pelo pilar básico, que é a transformação da educação. As pessoas mais educadas conseguem, pela conexão e educação, fazer escolhas melhores.Com melhores escolhas, com certeza a gente vai caminhar para um futuro melhor. A tecnologia permite a transformação da educação de várias formas. Primeiro, conectando pessoas –uma sociedade conectada pode aprender mais. Segundo, pela criação de plataformas de educação em que o conteúdo está disponível 24 horas por dia, em qualquer lugar. Isso encolhe espaços, aproxima pessoas e permite que um papel tão nobre quanto o do professor fique ainda mais nobre. O professor passa a ser o gestor do conhecimento. Nesse cenário, empresas como a Kroton conseguem representar exatamente o novo momento, que jamais a gente poderia pensar há 15 anos no Brasil: com mais escolas, universidades e centros de ensino tão capilarizados. O papel da tecnologia é de estimular a formação dessa massa de conhecimento conectado e colaborativo entre as pessoas.

E ao contrário, como a educação pode impactar a tecnologia?

O Google foi formado por dois estudantes que faziam doutorado, lá nos Estados Unidos.Hoje em dia, temos não só a democratização do conhecimento por meio da tecnologia, mas também a transformação do conhecimento em negócio. Tudo em função e fruto de uma triangulação entre academia, escolas, núcleos de empreendedorismo e um pouco do governo. É irrigação de dinheiro, de conhecimento e das trocas que têm aí. Educação é fundamental para que a gente possa ter um país que conte com apoio ao empreendedorismo, ao pioneirismo e à inovação. Também temos um papel, trabalhando com universidades e centros de excelência para ajudar o Brasil a ter mais polos de inovação.É uma iniciativa que não pode ficar restrita só ao governo. Cada um de nós tem de fazer sua parte nesse movimento.

As instituições de educação estão trazendo um número maior de alunos para dentro das escolas, mas reter os estudantes ou diminuir as taxas de evasão é um grande desafio. Como o Google e a internet podem auxiliar nesse sentido?

Quando eu era estudante, minha escolha [de carreira] se limitava a escrever para universidades. Em 1979, eu escrevi para a Unicamp e eles mandaram um folheto. Tudo que eu tinha era aquele folheto. Hoje em dia,um estudante consegue, com pesquisas online, ser mais assertivo na escolha do que quer fazer e em que lugar quer estudar. O processo de seleção é intenso, porque a pessoa está escolhendo ali o caminho que vai levar à carreira profissional. Além do estudante estar mais bem preparado para a escolha, as universidades conseguem gerenciar tanto a captura de interesse quanto o ciclo de vida do estudante, para que esse conhecimento não resulte em evasão escolar. O estudante pode estar há cinco, seis ou sete anos participando de um processo de aprendizado, a partir do momento que escolhe a instituição.

O Google tem a reputação de tratar muito bem seus funcionários. Os benefícios se traduzem em mais produtividade, crescimento e valor agregado para a companhia?

Tentamos ter um quadro de colaboradores de alta performance, motivados por objetivos não unicamente mensuráveis, como a paixão e o engajamento com causas que nos são caras – educação, inclusive, está no topo desta lista. O objetivo é ter gente boa, engajada, que entende que o espírito de generosidade da companhia se mantém com a cultura de alta performance. Elas podem ser mais criativas, trabalhar mais e ter mais produtividade, sem que a gente tenha um modelo de gestão hierárquico ou organizacional. Tem funcionado bem.

Assista ao bate-papo do Na Prática com Fabio Coelho, CEO do Google Brasil

Produtividade é um problema para o Google?

Não sinto déficit de produtividade da mão de obra brasileira. No Google, somos um pouco atípicos, porque a gente só tem pessoas com curso universitário, não tem mão de obra menos sofisticada. Mas eu diria que o brasileiro tem uma maneira diferente de trabalhar, é mais gregário. Não é melhor, nem pior. Os outros países adoram trabalhar com o Google Brasil.

Por quê?

O brasileiro toma um cafezinho, conta uma história de manhã, chega um pouco mais tarde, mas sai bem mais tarde que os outros. Trabalhamos mais, porque não temos aquele estilo compacto de chegar às 8 da manhã, almoçar na mesa e trabalhar 100% até 5 da tarde e desligar. Não tem nada de errado com aquele outro modelo. É super produtivo, mas de uma maneira diferente. Aqui, a gente é lúdico, gosta de se divertir no trabalho. O que temos no Brasil que prejudica muito é o déficit de infraestrutura. Sentimos com relação à energia ou com os deslocamentos, quando visitamos um cliente. Por aí, temos déficit de produtividade grande.

O texto completo pode ser lido em sua página original, na Época Negócios. Esta matéria, originalmente publicada em 25/7/2015, foi atualizada em 10/5/2016.

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