Carreira de engenharia no exterior: brasileira conta experiência na Europa

Carreira de engenharia no exterior: Alessandra Ferreira Porto

A escolha de seguir carreira de engenharia no exterior foi uma decisão estratégica para Alessandra Ferreira Porto. Seu sonho era conhecer o mundo. “Engenharia não era a minha carreira dos sonhos, era uma opção que eu via como segura na época, que eu tinha um certo talento. Muita gente decide por carreiras seguras, mas no fundo eu queria trabalhar com pessoas e na parte social. Tinha um desejo de sair de casa muito cedo. Foi uma decisão meio que lógica, mas acabei ficando feliz”, revela.

Para poder sair de casa, Alessandra optou por se inscrever no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que possui alojamentos para os estudantes, e cursar engenharia eletrônica. “Eu estudei em colégios militares desde os dez anos, então para mim foi tranquilo. Foi uma experiência ótima, principalmente pelo senso de comunidade da instituição e pelo processo de liberdade que eu estava vivendo”, explica.

Suas primeiras experiências profissionais foram um summer job (trabalho de verão) em um banco e como monitora em um colégio. “Não sabia muito que caminho seguir na época que eu estava me formando. Eu não via muitas opções de carreira no Brasil que me interessassem para continuar com a engenharia. Via amigos fazendo programas de trainee para várias empresas, mas não achava que fosse o ideal para mim. Sempre quis sair do Brasil e conhecer o mundo”, relembra.

Ida para a Europa

Durante seu último ano na faculdade, o ITA proporcionou a possibilidade de fazer o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em conjunto com outro país. Para ela, uma das opções era a Áustria, para onde foi e iniciou sua carreira de engenharia no exterior. “Quando o contrato estava acabando, coloquei na cabeça que queria ficar na União Europeia. Comecei a tentar pegar estágios similares. Alguns conhecidos tinham conseguido pelo ITA ou na raça. Peguei contato da área de recursos humanos, comecei a falar na internet com todos os contatos possíveis e  me candidatar”, esclarece.

Alessandra decidiu focar em países que falassem alemão porque estava aprendendo a língua e acreditava ser importante para seguir carreira de engenharia no exterior. “Recebi uma chance na Áustria. Era uma oportunidade ruim, algo que ninguém queria realmente fazer, mas era minha chance de ficar lá. Quando eu vi como funcionava, acabei ficando. Voltei apenas para apresentar o TCC, mas foi o tempo de sair meu visto patrocinado por uma outra empresa, na Suíça”, explica.

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Buscando alavancar a carreira de engenharia no exterior, a engenheira entrou em contato com o departamento de automação e controle da Alstom Power, empresa em que trabalhava, e começou a desenhar circuitos em seu tempo livre. “O estágio estava acabando e eles tinham uma vaga para o ano seguinte, então queria que me contratassem. Tive sorte que o recrutador na época não teve medo de contratar não-europeus e consegui a posição. Fiquei na empresa quase três anos, até ela declarar falência”, afirma.

Empecilhos da nacionalidade

Mesmo com os três anos de experiência em território europeu, continuou sendo difícil para Alessandra conseguir novas oportunidades em sua carreira de engenharia no exterior. “Eu mandava muito o currículo, mas não me chamavam por não ser europeia. Eu tinha um avô português, então decidi entrar com um pedido de cidadania. Foi uma diferença brutal. Dei muita sorte porque peguei a cidadania cinco meses antes de ser demitida e dois meses depois consegui entrevistas presenciais. Definitivamente, ficou mais fácil”, observa.

A engenheira entende a necessidade limitar imigrantes e estabelecer processos para provar as habilidades para estar no país, mas se entristece com a falta de engajamento das empresas. “Não entendo a falta de vontade das empresas de não patrocinar mais gente, gostaria de ver mais pessoas seguindo carreira de engenharia no exterior, ou qualquer outra área. Para driblar essa burocracia, é preciso ter um contato dentro. Mesmo não tendo cidadania europeia, visto você precisa. Para todo o resto da sua vida na Suíça, é muito necessário ter contatos na comunidade. É mais importante recomendação de alguém da comunidade do que ser europeu”, analisa.

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Fazer parte da rede de líderes de alto impacto da Fundação Estudar ajudou Alessandra a conseguir contatos para desenvolver sua carreira. “Também tive mentoria em um momento difícil, o que ajudou a colocar coisas em perspectivas e traçar metas. Me acalmou e me ajudou a ver o tipo de emprego que eu queria e que trabalhos rígidos me deixavam infeliz. TE me inspirou a ser mentora para alunas do ITA”, esclarece.

Trabalhando atualmente como engenheira de campo na multinacional ABB, Alessandra afirma que não tem um dia a dia comum. “Faço conversores para trens, a parte de tração em si. Nossa parte da empresa age como uma empresa pequena, então temos muita liberdade com o estilo gerencial. Temos que viajar para outros países para acompanhar os produtos. É muito dinâmico e cíclico. Sempre estamos pensando em como automatizar para melhorar as coisas. É um trabalho muito interessante e fico bastante feliz com as oportunidades de viajar”, declara.

Dicas para uma carreira de sucesso no exterior

Para ter sucesso em uma carreira de engenharia no exterior, Alessandra aponta que é essencial saber falar outra língua, além do inglês. “O inglês já é quase universal. A outra língua vai depender da indústria e do país. Francês e Italiano podem ser consideradas importantes. Fora o idioma, o principal é ter a mente aberta. Tentar não procurar outros brasileiros porque isso torna mais difícil de se integrar na comunidade e você nunca vivencia de fato a experiência do país”, pondera.

Além disso, a engenheira julga ser muito importante se arriscar. “Nem sempre é fácil, mas tem que botar a cara a tapa. Não pode ter medo de ser ridículo, de falar errado, nem de ficar sozinho. Em vários momentos você se sente só e isso pode dar um pouco de desespero. Essa capacidade de se manter calmo é muito importante, mas o principal é não ter medo”, garante.

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Ela ainda opina que a única desvantagem de não trabalhar no Brasil é estar fora de seu país de origem. “Eu gostaria de voltar se pudesse fazer algo de valor, que fizesse uma diferença na sociedade. Mas hoje tenho uma grande satisfação no meu trabalho por pensar que o que eu faço ajuda a vida das pessoas a serem um pouco melhor. Fazer bem e bem feito mesmo coisas pequenas me deixa feliz. É um tipo de satisfação que demorei anos para encontrar no trabalho. Ser parte de um grupo que junto faz uma coisa grande dá uma satisfação. É preciso ser todo em cada coisa”, finaliza.

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