A pandemia do coronavírus teve um grande impacto na economia brasileira, mas não são só as empresas que sofrem com o cenário atual. Segundo um levantamento da Fundação Getulio Vargas, 28,6% dos brasileiros estão lidando com estresse financeiro por conta das repercussões da Covid-19. Esse é o maior percentual já registrado pela pesquisa, realizada desde 2009. Nesse contexto, aprender sobre educação financeira se torna mais uma das habilidades essenciais para a nova configuração do mercado.
O objetivo da educação financeira é oferecer ferramentas para ajudar as pessoas a administrar o dinheiro que ganham, tomar decisões sobre como poupar e investir esses rendimentos, gerando um consumo consciente. Esse conhecimento também pode ser aplicado na gestão das organizações ou em projetos profissionais.
Por que falar de educação financeira?
Educador e terapeuta financeiro, Pedro Braggio afirma que a grande maioria das pessoas não foi educada para lidar bem com dinheiro. “A educação financeira é a base para que a pessoa consiga ter uma vida equilibrada financeiramente e assim conquistar seus objetivos. Profissionais com planejamento financeiro conseguem realizar sonhos, não contrair dívidas, tomar decisões financeiras assertivas e superar crises como atual sem tantas preocupações”, esclarece.
Além disso, ele indica que o profissional com conhecimentos de educação financeira tem mais chance de se desenvolver. “Isso porque ele vai ter mais condições de estudar e se profissionalizar melhor. Tanto a liderança quanto colaboradores, quando tem saúde financeira, conseguem trabalhar melhor e se desenvolver. E é importante porque o funcionário pode ficar estacionado em um padrão de conhecimento porque não tem condições de fazer algo mais. Quando conseguimos estudar mais, a tendência é ter um salário melhor, o que gera um ciclo virtuoso”, comenta.
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Observando a necessidade de difundir a educação financeira, André Portilho deixou a carreira em banco para dirigir o setor de educação financeira da Exame Academy, braço de educação continuada da marca. “Temos uma carência muito grande nesse assunto. Dinheiro, futuro e aposentadoria não são conversas corriqueiras nas famílias. Por isso temos uma quantidade grande de endividados. Não existe uma cultura de poupar e investir no Brasil e isso é prejudicial, principalmente porque temos um sistema que não vai conseguir oferecer previdência social para todo mundo na aposentadoria”, considera.
Um profissional com problemas financeiros possui as mesmas dificuldades no trabalho do que alguém gravemente debilitado. “Imagina que você tem seu emprego e está endividada. Da mesma forma que quando você está doente ou tem um problema pessoal, vai ter um impacto grande no seu dia a dia porque traz um estresse muito grande. É um choque direito no trabalho, na produtividade e consequentemente nos resultados. Com o estresse financeiro, a cabeça do profissional não vai estar no melhor lugar para trabalhar”, constata.
Marcelo Flora, sócio responsável pelo BTG Pactual digital, complementa que a educação financeira é importante para que os profissionais não fiquem reféns do dinheiro para tomar decisões. “Nos Estados Unidos, por exemplo, essa educação consegue fazer com que as pessoas tenham as rédeas das suas vidas. Se você consegue administrar bem seu dinheiro, consegue investir em qualidade de vida. A educação financeira é a essência disso tudo, senão você começa a tomar decisões no dia a dia ou no longo prazo que vão fazer com que você tenha que trabalhar mais por mais tempo e tenha que economizar em coisas que não deveria abrir mão”, analisa.
O gestor também afirma que esse conhecimento está relacionado ao nível de desenvolvimento das sociedades. “Quanto maior a educação, mais as pessoas conseguem ascender socialmente. As empresas estão começando a ter essa preocupação interna de treinar seus colaboradores em educação financeira porque contribui para a qualidade de vida dele. Mas ainda é algo muito no começo aqui no Brasil. Talvez a pandemia tenha colocada de forma mais latente essa necessidade porque muitas pessoas tiveram sua renda comprometida e não tinham uma reserva de emergência”, pondera.
E, ao contrário do que muitos pensam, os benefícios não são exclusivos para grandes empresários. “Quando uma pessoa de classe média tira o dinheiro da poupança e coloca em uma debenture de infraestrutura, usando o que ela aprendeu sobre educação financeira, ela contribui para sociedade como um todo. Você fomenta e economia e viabiliza projetos. Isso pode melhorar o transporte público, diminuir o número de carros, contribuir para diminuir a poluição, ajudar a economia e tudo por causa de onde você aplicou seu dinheiro”, exemplifica.
Primeiros passos para aprender
Os especialistas concordam que existem vários caminhos para começar a se aprofundar na educação financeira. Mas eles indicam algumas formas para os iniciantes:
#1 Apenas comece
Flora aponta que muitas pessoas buscam um momento ideal e nunca de fato dão o primeiro passo. Por isso, para ele o importante é que os profissionais iniciem de alguma forma, mesmo que com pequenas atitudes. “É um momento propício para que as pessoas se dediquem a aprender mais. Existe muito conteúdo na internet, até em plataformas de investimento”, recomenda.
Portilho complementa que quanto mais cedo começar, melhor. “Todo mundo entende que é importante, mas não que é urgente. Lá na frente, vai fazer muita diferença ter iniciado antes”, aponta.
#2 Perca o medo
Portilho também afirma que as pessoas precisam perder o medo de falar sobre dinheiro. Somente quando a sociedade tomar consciência do problema e trazer o assunto para a discussão é que se pode começar a pensar em uma saúde financeira. Além disso, ele sugere não delegar esse conhecimento.
“As pessoas delegam totalmente a parte financeira. Para corretores, gerente de banco, mulher, marido e deveria ser o contrário. Dado que seu futuro depende disso, como você vai delegar para outras pessoas? Elas não têm os mesmos interesses que você. Você precisa entender pelo menos as coisas básicas para que possa debater e saber o que é melhor para você”, pondera.
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#3 Leia e assista
Braggio recomenda duas leituras e filme para ajudar as pessoas a entenderem alguns conceitos essenciais. A obra Dinheiro é bom e eu gosto, de autoria própria, mostra a base da educação financeira e como sair do vermelho. Já o clássico Os segredos da mente milionária apresenta resignificações sobre dinheiro e hábitos financeiros de pessoas bem-sucedidas. Além disso, o consultor recomenda o filme O menino que inventou o vento, disponível na Netflix, que mostra a jornada empreendedora de um jovem sem recursos.
Além disso, existe uma série de conteúdos gratuitos disponíveis gratuitamente na internet. Algumas dicas de canais interessantes são as páginas da Nath Finanças, voltada para pessoas de baixa renda, como é o caso de muitos profissionais em início de carreira e o canal Me Poupe da jornalista Nathalia Arcuri. Diversas páginas do governo como o do Banco Central também oferecem cursos gratuitos para quem quiser se aprofundar mais no assunto.
#4 Entenda seu dinheiro
Braggio afirma que as pessoas precisam ter noção de quanto dinheiro ganham e seus gastos fixos e variáveis. “Você precisa conseguir pagar as contas essenciais e controlar as variáveis, o que a maioria das pessoas não costuma fazer. A partir disso, você consegue analisar que gastos podem ser cortados ou ajustados. Em um momento como esse, é necessário que quem tem planejamento financeiro o revise e faça com que ele melhore cada vez mais”, ensina.