A crise do coronavírus desestruturou o planejamento estratégico de muitas empresas, que precisaram repensar seus planos para sobreviver à situação. O empreendedor Alberto Leite, eleito em 2016 um dos 10 melhores CEOs do Brasil abaixo dos 40 anos pela Revista Forbes, conta a provedora de serviços de solução e produtos digitais FS Holding, da qual é cofundador e conselheiro, utilizou a estratégia de “salas de guerra” para superar as dificuldades do momento.
O executivo analisa que o cenário mostrou como empresas e pessoas são frágeis e que é preciso ter cuidado com a gestão do medo nesse momento. “Estamos apavorados em adoecer, perder o emprego, passar fome e com o bem-estar da família”, examina.
“Depois desse momento, vamos ter que fazer algumas reflexões sobre o capitalismo social, sobre como nos ajudar e tentar ser melhor”
Fora a gestão de crise e a ativação do que ele chama de modo de sobrevivência, Alberto aponta que a empresa estabeleceu um plano de como voltar à ativa quando tudo passar, que inclui as salas de guerra. “Não sabemos quando poderemos voltar, mas o como podemos controlar. Utilizamos as salas de guerra para desenhar planos criteriosos.”
O papel das salas de guerra nas estratégias
O conceito de sala de guerra envolve reunir profissionais específicos e estratégicos para gerenciar projetos complexos. O objetivo é que a equipe esteja focada e motivada a superar obstáculos e propor ações enquanto ajuda a dar continuidade às operações do dia a dia. A FS Holding se dividiu em algumas salas de guerra estratégicas, o que aumentou a agilidade da empresa, segundo seu cofundador.
“Temos uma sala de guerra específica para a geração de caixa, focada só nisso, por exemplo. Qual é a vantagem de fazer isso? As decisões são muito mais rápidas, as pessoas estão concentradas e com uma meta clara do que tem que ser feito. Todas as pessoas ali precisam ser muito específicas, extremamente rigorosas, entender o tamanho do problema e o que a empresa precisa para estar viva até o fim da pandemia.” Para tanto, em meio às medidas de isolamento social, em vez de espaço físico, a equipe se comunica em grupos no Whatsapp. “A cada novidade, uma decisão é tomada quase de imediato por ali. A ideia é tirar a burocracia da frente, falar menos e fazer mais”, explica.
A FS também conta, entre outras, com uma sala de guerra de priorização de projetos. “Obviamente nessa crise a gente teve que fazer seleções dos que são mais importantes à luz do momento. Os projetos priorizados foram aqueles que poderiam trazer mais produtividade para a companhia no curto prazo”, diz o conselheiro.
Além de voltadas para as questões internas, as salas de guerra também devem estar preparadas para responder às movimentações externas do mercado. “Como o governo editou um número muito grande de medidas provisórias e ficou uma briga entre o que era editado e aprovado ou não pelo Congresso, isso exigiu de nós um grupo de trabalho que ficasse muito atento à essas movimentações para saber que impactos elas teriam para o nosso negócio. Além de decisões judiciais que podem nos impactar ou nossos clientes”, detalha.
Além disso, enquanto lida com as questões empresarias, a FS Holding também se esforça para oferecer benefícios que ajudem seus colaboradores a manter seu bem-estar físico e mental, como aulas de ioga pelo Zoom, créditos em delivery, aconselhamento terapêutico e vacinação contra a gripe. Essas são algumas das iniciativas que também surgiram do trabalho desenvolvido nas salas de guerra.
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Os impactos da medida na empresa
Alberto percebe que os resultados da adoção das salas de guerra têm sido positivos. “Estamos vendo níveis de engajamento e transparência enormes na companhia. Vimos uma grande reciprocidade e senso de urgência. Não pretendemos desmontar as salas depois que a quarentena passar. Está claro para nós que mesmo quando as atividades comerciais retomarem uma certa normalidade, não significa que o problema da pandemia acabou. O consumo ainda vai ficar limitado de certa forma e vamos precisar de estratégias para fazer frente a esses desafios que serão muito complexos”, considera.
A ideia de um possível agravamento da situação socioeconômica mundial pode aumentar ainda mais a necessidade dessas equipes extremamente focadas e estratégicas. O nível de imprevisibilidade da crise atual é, na realidade, uma das grandes preocupações de Alberto.
“A verdadeira forma de liderar é ser o mais transparente possível nesse momento e servir de exemplo. Cada um precisa ter uma noção real do que deve fazer. É uma situação muito única que estamos vivendo. Você tem que gerenciar o dia a dia porque tudo está sempre mudando e quanto mais transparente você for, melhor. As pessoas precisam saber o tamanho do inimigo que elas estão enfrentando porque se elas não sabem, elas não se preparam”, opina.