Fragmentado, dinâmico e sustentado por redes de relacionamento. Assim será o mercado de trabalho do futuro – um tipo de ambiente que, aliás, já começa a se delinear no presente. O diagnóstico é do norte-americano Brendan Browne, diretor global de aquisição de talentos do LinkedIn.
Em entrevista exclusiva a EXAME.com, ele diz que dominar os conhecimentos exigidos pela profissão já não basta para se diferenciar da concorrência. Hoje, o mercado premia quem é capaz de se adaptar às mudanças – e rápido.
No futuro, o ritmo das transformações só deve aumentar. Por isso, avalia Browne, apostar em um networking forte e sustentável, inclusive por meio das redes sociais, será cada vez mais necessário para sobreviver à competição daqui para a frente.
Veja a seguir os principais trechos da conversa exclusiva com o diretor do LinkedIn:
Em entrevista à revista The New Yorker, um dos fundadores do LinkedIn, Reid Hoffman, disse que no futuro o “guardião” do emprego de uma pessoa não será mais o seu empregador, mas sim a sua rede de contatos. Como explicar essa previsão?
No passado, dominar o conhecimento exigido para desempenhar uma função era o principal recurso de um profissional. Hoje, o maior diferencial competitivo é a capacidade de se adaptar.
Por isso, é cada vez mais raro ver pessoas trabalhando por muitos anos numa mesma empresa, como era comum antigamente. Tanto empregadores quanto empregados precisam se desafiar constantemente para permanecerem competitivos e terem sucesso a longo prazo.
É por isso que a nossa rede de contatos funcionará cada vez mais como nossa “curadora”: é por meio dela que estamos sendo expostos a novas tendências, tecnologias e áreas de conhecimento. É também o networking que nos permite acessar novas oportunidades de trabalho. Manter redes fortes é essencial para crescer e se dar bem no caminho que você escolheu.
O networking nunca mais será o mesmo depois das redes sociais?
Muita coisa mudou. A tecnologia está sempre transformando os nossos relacionamentos. O networking existe há muito tempo, mas antigamente estava limitado aos nossos contatos mais próximos e dependia muito das interações presenciais, físicas.
A internet e redes sociais como o LinkedIn diversificaram as possibilidades. Hoje, você pode acompanhar de perto o que está acontecendo nas vidas e carreiras dos seus contatos. Você pode descobrir conexões em comum. Pode compartilhar conteúdo e alimentar relacionamentos sem necessariamente estar com a outra pessoa.
Como era estar desempregado antes da internet? Como é agora?
A maior diferença diz respeito à escala. Antes das redes sociais, as oportunidades de emprego dependiam de você estar no lugar certo, na hora certa. Agora, quem procura trabalho tem infinitas formas de achá-lo. E, também, conta com algo ainda mais importante, que são as inúmeras maneiras de fortalecer a sua marca profissional.
Não à toa, os brasileiros têm usado intensamente as redes sociais para encontrar emprego. E eles podem fazer muito mais para se apresentar da melhor forma possível a um empregador, construindo sua presença online de forma estratégica.
Objetos como cartões de visitas, currículos e cartas de recomendação continuarão existindo no futuro?
Continuarão existindo, mas sempre evoluindo. Um perfil no LinkedIn pode ser visto como a evolução de um CV convencional. É um documento vivo, que pode ser melhorado todos os dias, no mesmo ritmo da sua carreira. A tradicional carta de recomendação pode ser o comentário que um contato escreve no seu perfil online.
No futuro, tudo isso pode ter uma aparência completamente diferente. O fato é que hoje estamos fortemente atrelados às nossas redes – e elas são muito valiosas. Os membros do LinkedIn estão usando o site cada vez mais para mostrar portfólios, apresentações, produções próprias. Compartilhar tudo isso com os seus contatos é uma forma de se diferenciar e criar a sua própria marca no mercado.
A internet funciona como uma vitrine: mesmo empregados, somos constantemente tentados a espiar vagas abertas em outras empresas. Isso não estimula a troca excessiva de emprego, ou o famoso comportamento “pula-pula”, sobretudo entre os mais jovens?
Para mim, toda essa visibilidade cria uma competição muito saudável. Empregador e funcionário são estimulados se importarem mais um com o outro. Afinal, as empresas conseguem encontrar talentos mais facilmente hoje em dia, e pessoas talentosas também podem achar empregos mais facilmente.
Nessa dinâmica, cabe às empresas criar propostas de valor atraentes para os funcionários – tanto para recrutar quanto para reter talentos. Isso é ótimo para os profissionais, e também para as empresas e os seus acionistas. Todos saem ganhando.
Está surgindo uma nova relação entre recrutadores e candidatos graças à tecnologia?
Sim. É uma relação mais transparente. As empresas querem profissionais alinhados à sua cultura e aos seus valores, enquanto as pessoas querem ambientes de trabalho que as façam felizes.
Uma pesquisa do LinkedIn mostra que 45% dos profissionais querem saber mais sobre a cultura de uma empresa no seu primeiro contato com um recrutador.
O que nós percebemos é que, quando um candidato compartilha dos valores do seu empregador, ele trabalha melhor e fica mais tempo no emprego. Por isso, quanto mais se puder verificar a sintonia entre as duas partes, melhor será para elas no futuro.
Recentemente, o LinkedIn anunciou que pretende criar o chamado “Economic Graph”, um mapa da economia global formado pelas conexões digitais entre pessoas, empresas, competências e vagas. Caso um projeto de mapeamento como esse se torne viável, qual será o seu impacto sobre as relações de trabalho do futuro?
O objetivo do LinkedIn é criar oportunidades econômicas para cada membro da força de trabalho. Nosso plano é usar os dados que temos e trabalhar com governos e universidades para preparar profissionais com as competências de que o mundo precisa.
O passo seguinte é unir as pessoas às oportunidades certas para elas. Na nossa visão, isso impulsionará o desenvolvimento econômico global. É ambicioso, mas acreditamos que temos os recursos para fazer isso acontecer.
Este artigo foi originalmente publicado em EXAME.com